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Arnaldo Francisco Cardoso | 24/07/2020
Notícias
Desde o início da atual pandemia de coronavírus que impôs restrições à mobilidade e reunião de pessoas, o mercado das feiras setoriais nacionais e internacionais se deparou com uma onda de adiamentos e cancelamentos diante das incertezas que ainda afligem a todos. Mas o que estamos assistindo hoje na esteira de uma série de iniciativas, são os esforços para a adaptação do conceito dessas feiras para o formato digital.
A participação em feiras setoriais nacionais e internacionais costuma integrar as estratégias de marketing das empresas, que veem nelas oportunidades privilegiadas para o lançamento de produtos, realização de negócios, atualização profissional e estabelecimento de relacionamentos profissionais (networking).
Para países, sediar grandes feiras é uma forma de ganhar visibilidade, movimentar o setor do turismo de negócios e projetar uma imagem positiva do país. A Alemanha, por exemplo, em 2019 sediou 163 feiras nacionais e internacionais com 180 mil expositores e cerca de 10 milhões de visitantes. As empresas responsáveis pela organização dessas feiras somaram receita aproximada de 4 bilhões de euros.
Com a expansão do contágio da covid-19, os primeiros cancelamentos ocorreram na China, seguidos por outros países asiáticos, Europa e resto do mundo.
Na Europa, um dos primeiros cancelamentos ocorreu em fevereiro, em Barcelona, onde aconteceria a edição 2020 do World Mobile Congress (MWC), salão mundial da telefonia móvel que costuma atrair mais de 100 mil visitantes e cerca de 3 mil expositores todo ano.
No Brasil, em março ainda ocorreram algumas feiras como a Expo Revestir, do setor da construção civil, com destaque ao segmento de pisos e revestimentos que atraiu 57 mil visitantes e realizou negócios de R$ 280 milhões.
Em abril, a Coverings, outra feira do setor da construção civil que ocorreria em Orlando/EUA cancelou sua edição 2020. Seus cerca de 900 expositores disponibilizaram conteúdo em um ambiente virtual voltado ao estabelecimento de contatos comerciais e divulgação de produtos.
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Semana passada foi a vez da Marmomac, tradicional feira do setor de rochas ornamentais que ocorre anualmente em setembro em Verona-Itália anunciar o cancelamento da edição presencial deste ano e lançar sua versão digital chamada de Marmomac ReStart. Através de uma plataforma interativa, poderão ser realizadas durante três dias reuniões, networking, b2b (business to business) e eventos digitais promovendo a interação entre expositores, compradores e demais interessados.
O mesmo ocorreu com a Cersaie, a mais importante feira do setor cerâmico que ocorre anualmente em setembro em Bolonha-Itália. Sua edição de 2020 foi transferida para 2021.
Com os organizadores dessas feiras identificando a migração para o formato digital como a melhor saída para o enfrentamento da crise o que tem ocorrido são as demandas por adaptações tecnológicas e revisão de processos especialmente das áreas comercial, de marketing e financeira.
Demandando novas habilidades e competências dos seus colaboradores as empresas enfrentam o desafio de expor seus produtos eficientemente, apresentar soluções inteligentes e conquistar/renovar a confiança de parceiros e clientes.
Entidades setoriais e lideranças empresariais tem concebido e implementado novas práticas como as de videoconferências, reuniões por streaming para o compartilhamento de experiências e ideias.
Os exemplos de novas práticas já são muitos. Diante do cancelamento de feiras em que costuma apresentar seus lançamentos, a fabricante espanhola de veículos industriais, AUSA, se adaptou e fez o lançamento, no dia 20 de junho, de dois novos produtos num evento digital global que pôde ser acompanhado através de seu website e redes sociais.
Em recente pesquisa, visando identificar perfis profissionais demandados por recrutadores e competências esperadas de novos profissionais, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville, identificou junto a mais de 100 empresários e gestores de empresas da região que as principais características do perfil profissional desejado são: capacidade de adaptação, criatividade, flexibilidade, liderança, solução de problemas complexos, entre outras. Quanto às áreas de formação, a pesquisa revelou o interesse dos recrutadores por jovens profissionais egressos de áreas tradicionais como a da Administração, complementadas com habilidades em transformação digital, tecnologia, gestão e liderança de pessoas.
Os resultados da pesquisa, feita no contexto dessa grave crise hoje vivida no Brasil e no mundo, evidenciaram a percepção de empresários e gestores quanto aos valores que deverão nortear as melhores empresas diante dos sérios desafios que teremos pela frente.
Além de competências técnicas, a ética e o respeito, atitudes colaborativas, espírito crítico, disposição ao aprendizado, capacidade de adaptação às mudanças e a responsabilidade com a entrega de valor à empresa e à sociedade, deverão orientar as ações de todos para que o país e o mundo reencontrem o caminho de desenvolvimento favorável a todos.
O aprendizado com as crises pavimenta o caminho para o futuro.
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Arnaldo Francisco Cardoso
Professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.
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