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Fernando Gambôa e Cristiano Rios | 20/05/2020
Notícias
Nos primeiros dias da pandemia da COVID-19, a grande preocupação dos empresários era que os bloqueios na China pudessem causar impactos de curto prazo nas cadeias de suprimentos, tanto em termos de componentes para o setor de manufatura, como de produtos acabados para comercialização no varejo tradicional. Agora, essa parece ser uma das menores preocupações do mundo. Inicialmente, à medida que cada país entrava em confinamento, a população da região começava a levar o isolamento social a sério e consequentemente, as cadeias de suprimentos globais passaram a enfrentar postergações e cancelamento de pedidos, além de dificuldades para embarcar produtos devido ao fechamento das fronteiras. Por isso, os varejistas e empresas de bens de consumo foram forçados a se adaptar a uma nova realidade.
Quando o vírus começou a se disseminar para novas localidades, os consumidores começaram a comprar produtos essenciais e de higiene em grandes quantidades para estocar em casa, movidos pelo pânico de um possível desabastecimento no curtíssimo prazo. Repentinamente, os varejistas de alimentos viram as prateleiras esvaziarem e uma significativa migração rumo ao comércio online, que não conseguiu entregar os produtos comprados com a rapidez necessária para atender esta nova demanda. O estoque de determinados itens - principalmente, alimentos, mas também os produtos essenciais para o isolamento, como papel higiênico, ração para animais de estimação e materiais de limpeza - desapareceu de um dia para o outro.
No outro extremo do consumo, os varejistas de produtos não essenciais enfrentaram uma situação de demanda muito diferente. Conforme as lojas fechavam devido as medidas restritivas, o tráfego de pessoas pelas ruas diminuía e os consumidores reduziam o consumo, fazendo com que a demanda caísse drasticamente. Mesmo aqueles clientes que já utilizam comércio online repentinamente, perceberam que os produtos estavam sendo retidos, uma vez que as plataformas corretamente priorizavam as entregas essenciais.
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Mais recentemente, as implicações da oferta de produtos ao longo prazo também começaram a surgir. As paralisações globais fizeram com que muitos fabricantes e fornecedores interrompessem ou redirecionassem, temporariamente, a produção usual para fornecer itens essenciais e necessários à população. Nos casos em que os chãos de fábrica ainda estão em operação, os estoques de insumos críticos e matérias-primas estão acabando. As fábricas que estavam operando com níveis de estoques reduzidos já estão sentindo o impacto.
A logística e o transporte também estão sendo cada vez mais afetados. Além das fronteiras entre várias cidades e países terem sido fechadas, a liberdade de circulação interna foi reduzida em muitas localidades. Antes da crise, parte do frete marítimo era transportado em voos comerciais de passageiros e essas rotas praticamente desapareceram agora. Como consequência, os custos de frete intercontinentais mais que dobraram desde o início da crise.
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Isso tudo criou uma situação ímpar para varejistas e empresas de bens de consumo. Alguns conseguiram manter as empresas que faziam o abastecimento com o objetivo de melhorar a eficiência, concentrando-se, por exemplo, em uma única unidade de manutenção de estoque para gerar volumes maiores em produtos de alto giro, como o pão. Já outros passaram as últimas semanas concentrando-se em garantir rotas e fornecedores alternativos, visando atingir as metas existentes.
Mundialmente, os líderes das cadeias de suprimentos estão reavaliando essas novas realidades e tentando prever o que o futuro pode trazer. Perguntas difíceis estão sendo feitas, tais como: Temos conhecimento suficiente dos níveis inferiores da cadeia de suprimentos para avaliar o impacto global adequadamente? Conhecemos as rotas de fornecimento e exploramos alternativas? Reavaliamos as posições de estoques? Temos uma visão dos pedidos que serão potencialmente afetados? Diante dessa análise, muitos líderes de varejo e bens de consumo não estão satisfeitos com as respostas que estão recebendo.
Enquanto o mundo procura soluções para os riscos à saúde dessa pandemia, está claro que levará algum tempo para que as cadeias de suprimentos retornem a algo semelhante ao que costumamos chamar de normal. Por isso, varejistas e empresas de bens de consumo devem começar a pensar além da fase inicial de mitigação e resposta, visando criar resiliência na cadeia de suprimentos no médio e longo prazo. Temos visto que as principais organizações deste setor já estão começando a fazer exatamente isso. No decorrer dos próximos meses, líderes das cadeias de suprimentos de empresas de varejo e bens de consumo precisam trabalhar para melhorar a eficiência e a segurança da oferta e, ao mesmo tempo, encontrar novos fornecedores e rotas que permitam à organização buscar uma diversificação em momentos de crise.
As empresas que conseguirem estabilizar essas cadeias de suprimentos e se posicionar para avaliar interrupções futuras, fornecendo respostas estruturadas para riscos e pontos de exposição, estarão em melhores condições de enfrentar o cenário atual. Como resultado, todos os recursos de mitigação e resiliência das organizações serão fortalecidos - dos processos de governança à tecnologia e infraestrutura operacional.
Já as organizações que gerenciam problemas de cadeia de suprimentos e de demanda reativamente irão enfrentar problemas no curto prazo. Nesse ambiente atípico e de crise, serão as empresas com as cadeias de suprimentos mais ágeis, eficientes e resilientes que irão superar a crise com sucesso e estarão em posição de vantagem mercado.
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Fernando Gambôa e Cristiano Rios
*Fernando Gambôa é sócio-líder de consumo e varejo da KPMG no Brasil e na América do Sul. *Cristiano Rios é sócio-líder de bens de consumo e cadeias de suprimentos da KPMG no Brasil.
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