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A notícia de que a American Society for Testing and Materials (ASTM), organização que desenvolve normas técnicas para indústrias, aprovou o uso de combustíveis renováveis na aviação comercial e militar, deu a largada para que as companhias aéreas anunciassem seus primeiros voos regulares verdes.
A ASTM divulgou a medida em julho. De lá para cá, Lufthansa, KLM, Thomson, Finnair, Aeromexico e Iberia informaram que estão utilizando até 50% de biocombustível feito a partir de matérias-primas oleaginosas, como pinhão manso, microalgas e camelina (prima da canola), em seus tanques.
A experiência, por enquanto, se aplica a apenas algumas rotas. Mas a Airbus e a Boeing, que juntas fabricam cerca de 80% dos aviões de passageiros do mundo, planejam a criação de cadeias de produção de biocombustíveis para abastecer os aviões pensando em grande escala.
Em comunicado, a Airbus estima que o combustível de aviação a partir de fontes renováveis pode ser responsável por 30% do consumo das companhias aéreas em 2030.
A General Eletric, fabricante mundial do maior motor a jato, diz que essa nova fonte de abastecimento não tem qualquer impacto no funcionamento normal dos aviões.
No Brasil, a companhia aérea Azul e a Embraer vão realizar em meados de 2012 o primeiro voo experimental (sem passageiros) com o uso de bioquerosene inédito, obtido a partir da cana-de-açúcar. O combustível está em fase de desenvolvimento pela Amyris.
A GE também participa do projeto. Segundo o comandante Miguel Dau, vice-presidente da Azul, que deverá pilotar o avião, a ideia é estabelecer uma rota regular a partir de Campinas já em 2013.
Dau acredita que os novos biocombustíveis serão uma fonte significativa de redução de gases de efeito estufa na atmosfera por parte da aviação. Mas as pesquisas visam também reduzir custos. "A diversificação energética deve diminuir a insegurança em relação à flutuação da cotação internacional de petróleo, considerando que atualmente 35 a 40% dos custos da aviação estão associados a combustível", afirma.
Custo alto
Segundo o diretor de Estratégias e Tecnologias para o Meio Ambiente da Embraer, Guilherme de Almeida Freire, por enquanto, os biocombustíveis custam de duas a três vezes mais do que o querosone tradicional de aviação, mas os projetos avançam.
A fabricante e a GE realizaram uma série de voos de teste no mês passado com um jato Embraer 170 utilizando o combustível Hefa (Ésteres e Ácidos Graxos Hidro-processados), derivado da camelina, na proporção aprovada pela ASTM.
Com os testes, a empresa ganha conhecimento também para os ensaios envolvendo outros combustíveis, como o da Amyris, ainda em estudo pela ASTM.
O processo usa reações catalíticas e fermentação bioquímica feita por organismos geneticamente modificados para produzir as moléculas de hidrocarbonetos para o biocombustível de aviação.
"A Embraer considera que esses testes, mais do que vantagens competitivas da empresa, vão levar ao futuro do transporte aéreo", diz Freire.
Ele acrescenta que as emissões de carbono chegarão a 1,2 bilhão ou 1,4 bilhão de toneladas em 2030, dependendo do cenário de crise ou crescimento. A meta global do setor é reduzir em 50% as emissões até 2050, comparado com 2005.
Freire diz ainda que uma condição básica na pesquisa é que os novos biocombustíveis não exijam mudanças nos aviões ou nos motores, para não gerar impactos na segurança e no custo.
Além disso, a opção é utilizar matérias-primas que possam ser misturadas àquelas já utilizadas e que não precisam de infraestrutura diferenciada.
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