Indústria quer definição para avançar com Proconve

Programa de emissões trava por causa da crise e da falta de planejamento.

O Brasil conquistou importantes resultados no que diz respeito às emissões de poluentes com a criação do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos, o Proconve, que está completando 30 anos. Para se ter ideia, a emissão média de CO (monóxido de carbono) por veículo antes do Proconve era acima de 54 g/km e hoje este nível é de 0,3 g/km, graças às exigências de redução, o que envolveu o desenvolvimento de novas tecnologias e investimentos por parte das fabricantes de veículos e de toda a sua cadeia de fornecedores.

Mas embora o País tenha avançado ainda está atrás de Europa e Estados Unidos, que apertam cada vez mais seus padrões de emissões tanto para veículos leves quanto para pesados, o que exige das fabricantes ainda mais dedicação em novos desenvolvimentos ou em aprimoramentos das alternativas já existentes. Enquanto isso, o Brasil esbarra em quesitos como organização e planejamento.

“O que a indústria quer é a definição de prazos para os novos níveis de emissões a fim de avançar ainda mais com o Proconve”, defende Stephan Blumrich, vice-presidente da Umicore, cuja fábrica em Americana (SP) está completando 25 anos. O executivo lembra que a empresa desembarcou no País graças ao próprio Proconve: a inauguração da planta em 1991 permitiu à indústria nacional de veículos equipar seus modelos com catalisadores de fábrica. O item é responsável por transformar até 98% dos gases tóxicos provenientes da queima de combustível em gases inofensivos.

Segundo Blumrich, apesar de o Brasil ter chegado ao L6 (normas de emissões para veículos leves) e o P7 (normas para veículos comerciais pesados equivalente ao Euro 5), o País não pode parar de avançar: “Além de proporcionar melhora significativa na qualidade do ar, a adoção de novas tecnologias torna a indústria mais competitiva. Sabemos que implementar o Euro 6 ou PL7, que estão em discussões ainda muito embrionárias no Brasil, existe uma gama extensa de tecnologias já usadas no mundo que gostaríamos de trazer para este mercado”, reforça. 


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Para Gabriel Murgel Branco, que trabalhou na Cetesb e um dos responsáveis pela concepção do Proconve, a implementação das fases do programa que exigiam novos níveis de emissões vinha sendo feita de forma regular a cada quatro anos: “Desta vez, a crise atrapalhou”, afirma. “Acredito que uma forma de adequar a evolução do Proconve ao momento atual de paralisação econômica é o planejamento progressivo, com o fatiamento das normas por segmento. Poderia-se começar com ônibus, por exemplo, para tornar os corredores ainda menos poluentes e, em 2 anos, expandir a exigência para caminhões. É uma forma de organizar melhor. O progressivo deu muito certo no passado.”

Ele acrescenta que também é importante retomar ações que considera cruciais, como a inspeção veicular, que pode ser feita de forma remota com sensores em vias públicas, a fiscalização do uso de Arla 32 na frota circulante e o planejamento para a renovação da frota.

“Os caminhões preparados com níveis de emissões P7 (Euro 5) sem o uso do Arla começam a emitir o mesmo nível de caminhões de 20 anos atrás que não tinham nenhuma tecnologia para redução de emissão. É o problema que temos hoje, a falta de fiscalização”, lamenta.